Samira Pavesi é uma artista que pulsa em sintonia com os ciclos internos.

Nascida e criada durante a infância em Rio Calçado, interior do estado do

Espírito Santo, mora atualmente na capital, em Vitória-ES.

Sustenta uma prática artística vigorosa, iniciada em 2020 de maneira

autodidata e persistente, com a intensidade de quem não se satisfaz com o que

está à vista. Tem algo além e é na direção dessa perspectiva que Samira

posiciona seu olhar, seu pincel, seu desejo de fazer.

Esse é o fio que conduz a paisagem que a artista cria, de início em imagens

figurativas que experimentam o seu traço em cores vibrantes, para ganharem

tons mais sombrios e assumirem as tramas labirínticas que não escapam aos

que se permitem as zonas mais profundas da existência. Grande parte do que

buscamos e vivemos dispensa explicações e é melhor que fique aí, entre as

frestas e silêncios que tornam as obras as grandes interlocutoras.

Nessa clave, Samira se organiza da rotina matinal e diária no ateliê, dedicando-

se aos estudos e aprimoramentos nas técnicas de pintura em cursos, viagens e

residências artísticas, buscando notícias de si nos trabalhos que desenvolve.

Dentre as exposições individuais realizadas pela artista, destacam-se a

ocupação no projeto na Direção da Cultura, da Volkswagen e a exibição no

Espaço Cultural da Justiça Federal do Espírito Santo, a participação na

residência artística Nowhere, em Lisboa, além de mostras coletivas e leilões.

Sua poética parte de uma memória afetiva, um encontro com a liberdade

primordial encontrada no gesto da pintura, onde não só os pincéis, mas

também o corpo, organizam a criação em movimentos que pendulam entre a

ressignificação e a invenção. Ter origens no interior permite uma certa falta de

limites, um olhar sem fim, permite marcar as sobreposições e camadas às

telas, que avançam numa métrica diretamente proporcional entre ampliar e

aprofundar.

A pintura segue como pavimento para seu percurso, sem preveni-lo de outras

experimentações como nas fotografias e instalações, revelando que o olhar

pictórico permeia seu manejo artístico. Samira pinta não somente diante da tela

ou enquanto fotografa e esculpe, mas no cotidiano banal e extraordinário, e

considerar esse fato como linha mestra faz com que esse caminho ganhe uma

precoce maturidade.

Flávia Dalla